Uma Carta de Namorados (A Valentine)


Enviado a um amigo que reclamara que eu ficava feliz o suficiente por vê-lo quando ele vinha, mas que não parecia sentir sua falta quando ele estava longe.

E não podem prazeres, enquanto duram,
ser verdadeiros; e quando passam,
deixar-nos estremecidos e amedrontados
com ardida angústia?
E não podem amigos ser firmes e ágeis,
e ainda assim partir?

E devo eu então, a um chamado da Amizade,
calmamente abdicar das pequenas coisas
(banais, admito, banais e menores)
que tenho de felicidade,
e emprestar meu ser à servidão
da melancolia e tristeza?

E pensa você que eu devo ser estúpido,
e cheio DOLORUM OMNIUM*,
com exceção a quando você escolher vir
e compartilhar meu jantar?
Outrora sendo azedo e sombrio
e dia a dia mais magro?

Deve ele então apenas viver para chorar,
quem provaria sua amizade sincera e profunda
todo dia a uma solitária sombra deformada,
à noite definhada,
frequentemente levantando em seu sono inquieto
o lamento da angústia?

O amante, se por certos dias
lhe é negado por sua amada uma contemplação,
afunda não em dor e selvagem assombro
mas, corteja mais sabiamente,
passa seus dias escrevendo canções
e as envia a ela.

E se o verso correr solto e fácil,
até quando o poeta estiver espantado,
uma tocante carta de Dia dos Namorados enfim
deverá ser postada
quando treze dias houverem se passado
em fevereiro.

Adeus, bom amigo, e quando nos encontrarmos,
no desperdício desértico ou em ruas abarrotadas,
talvez antes que esta semana se vá,
talvez amanhã.
Eu confio encontrar seu coração como morada
de uma devastadora tristeza.

*da dor de todos

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