Nossa amizade durou dessa maneira por anos, durante os
quais meu temperamento e caráter – através da ação da Intemperança Demoníaca[1] -
tiveram (Eu me envergonho de confessar isso) uma radical alteração para pior.
Eu cresci, dia após dia, mais mal-humorado, mais irritável, mais desatento aos
sentimentos dos outros. Eu me permitia usar uma linguagem imoderada com minha
mulher. Por muito tempo, até cheguei a usar de violência com ela. Meus animais, é
claro, sentiram a mudança em meu caráter. Eu não apenas os negligenciava, como
fazia mal para eles. Por Pluto, entretanto, eu ainda mantinha a consideração
que me continha de maltratá-lo, como fiz inescrupulosamente ao maltratar os
coelhos, o macaco, ou mesmo o cachorro, quando por acidente, ou por afeto, eles
passavam pelo meu caminho. Mas minha doença cresceu sobre mim – e que doença
terrível é o álcool! – e com o tempo mesmo Pluto, que agora estava se tornando
velho, e consequentemente de alguma forma, impertinente – até mesmo Pluto
começou a experimentar os efeitos do meu mau humor.
Uma noite, voltando para casa de um dos meus lugares
favoritos[2] na cidade muito intoxicado, eu supus
que o gato evitava minha presença. Eu o agarrei, quando, em seu medo de minha
violência, ele causou um leve machucado sobre minha mão com seus dentes. A
fúria de um demônio instantaneamente se apossou de mim. Eu não me reconhecia
mais. Minha alma original pareceu voar de meu corpo, e uma malevolência
demoníaca, nutrida pelo gim, arrepiou cada fibra do meu ser. Eu tirei do bolso
de meu colete um canivete, abri-o, agarrei a pobre criatura pela garganta, e
deliberadamente arranquei um de seus olhos da órbita! Eu coro, eu queimo, eu
tremo, enquanto descrevo tão condenável atrocidade.
Quando a razão voltou com a manhã – quando eu havia me
livrado da fumaça do deboche noturno – eu experimentei um sentimento que era
meio horror, meio remorso, pelo crime do qual eu era culpado, mas foi apenas um
débil e equivocado sentimento, e minha alma permaneceu intocada. Novamente eu
mergulhei no excesso, e logo afoguei no vinho toda a lembrança de minha ação.
Durante
esse tempo o gato vagarosamente se recuperou. A órbita do olho perdido
apresentava, isso é verdade, uma aparência assustadora, mas ele não parecia
mais sofrer nenhuma dor. Ele andou pela casa como de costume, mas, como era de
se esperar, fugia com extremo terror à minha chegada. Tanto restara de meu
velho coração que primeiramente fiquei triste por esse evidente desgosto por
parte de uma criatura que um dia tanto me amara. Mas esse sentimento logo deu
lugar à irritação. E depois veio, como minha final e irrevogável ruína, o
espírito da Perversidade. Da filosofia desse espírito não estava ciente. Eu não
estou certo que minha alma é viva tanto quanto o estou sobre a perversidade ser
um dos impulsos primitivos do coração humano – umas das faculdades primárias
indivisíveis ou sentimentos que deram direção ao caráter do Homem. Quem, uma
centena de vezes, não encontrou a si mesmo cometendo uma vil ou estúpida ação por
nenhuma razão a não ser por que sabia que não deveria? Não teríamos nós a inclinação, diretamente do nosso melhor
julgamento, de violar o que é Lei,
simplesmente porque nós achamos que assim o devemos fazer? Desse espírito de
perversidade, eu digo, veio à minha ruína final. Era esse anseio insondável da
alma de aborrecer-se – para oferecer violência em sua própria natureza – para
fazer o errado apenas por fazer – que me incitava a continuar e finalmente
terminar o ferimento que eu havia infligido ao inofensivo animal. Uma manhã, a
sangue frio, escorreguei um laço em volta de seu pescoço e pendurei-o no galho
de uma árvore; assim o fiz com as lágrimas correndo em meus olhos, e com o mais
amargo remorso em meu coração, pendurei-o porque
eu sabia que um dia ele havia me amado, e porque
eu senti que nunca havia me dado razão para ofensa; pendurei-o porque sabia que assim estaria eu
cometendo um pecado – um pecado mortal que prejudicaria minha alma imortal que
a colocaria no lugar, se é que algo assim fosse possível, mesmo além do alcance
da infinita misericórdia do Mais Misericordioso e Mais Terrível Deus.
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Quer ler esse texto em inglês? Acesse o link do original por aqui.
Os demais textos dessa história podem ser acessados neste link.
Nossa dica para você que está aprendendo inglês é tentar comparar as duas histórias, ouvir o áudio no site do original, e ir praticando a pronúncia.
Tem interesse em ver vídeos sobre inglês? Procure nosso canal no Youtube: Inglês na Fita.
Continua:
Parte III: http://goo.gl/rSywta
Parte IV: http://goo.gl/j5pjUL
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