LOCAL: Uma plantação de repolho de um fazendeiro.
TEMPO: Uma bela manhã de primavera.
(O Ouriço está em sua porta olhando a plantação de repolho que ele
pensa ser sua.)
Ouriço: Minha esposa, você já vestiu as crianças?
Esposa: Já sim, meu querido.
Ouriço: Bem, venha aqui e vamos ver nosso canteiro de repolhos.
(A Esposa sai.)
Ouriço: Bela colheita, não é? Devemos ficar felizes.
Esposa: O repolho está bom o suficiente, mas eu não vejo
motivo para que fiquemos tão felizes.
Ouriço: Por que há lágrimas em sua voz, meu amor? Qual é o
problema?
Esposa: Eu suponho que eu não deva me importar com isso,
mas aquelas medonhas lebres quase me matam de tanto medo.
Ouriço: O que elas estão fazendo agora?
Esposa: Fazendo? O que elas não estão fazendo? Ontem mesmo
eu trouxe meus lindos bebês aqui para fora, para pegar algumas folhas de
repolho. Nós estávamos comendo como ouriços bem comportados sempre comem, e
aquelas Lebres horríveis quase nos fizeram chorar.
Ouriço: O que elas fizeram?
Esposa: Elas vieram para nosso canteiro de repolhos, deram
risadinhas e disseram: “Oh, vejam as pequenas coisas com pernas de pato! Não
são engraçadas?” Depois uma delas pulou sobre um repolho apenas para ferir
nossos sentimentos.
Ouriço: Bem, elas são más, eu sei, mas nós não vamos reparar nelas.
Eu vou me vingar delas algum dia desses. Ah, lá vem uma delas agora.
Esposa: Sim, e ela riu-se de mim ontem. Ela disse: “Bom
dia, Madame PernasCurtas.” Eu não vou falar com ela. Vou me esconder até que se
vá.
(A Esposa se esconde atrás de um repolho.)
Ouriço: Bom dia, senhor.
Lebre: Você está falando comigo?
Ouriço: Certamente; você vê mais alguém por aqui?
Lebre: Como ousa falar comigo?
Ouriço: Oh, estou apenas sendo cortês.
Lebre: Eu devo te pedir para não falar comigo a partir de
agora. Eu sou muito bom para reparar em ouriços.
Ouriço: Bem, isso é estranho.
Lebre: O que é estranho?
Ouriço: Bem, eu acabei de dizer para minha esposa que nós
não repararíamos você.
Lebre: Não me reparariam, realmente, sua coisa tola, de
pernas curtas e pernas de pato!
Ouriço: Bem, minhas pernas são quase tão boas quanto as
suas, senhor.
Lebre: Tão boas quanto as minhas! Quem já ouviu tal coisa?
Você mal pode fazer outra coisa que não rastejar.
Ouriço: Pode ser como diz, mas eu correrei uma corrida com
você qualquer dia.
Lebre: Ha, ha, ha! Ho, ho, ho! Uma corrida com um ouriço!
Bem, bem, bem!
Ouriço: Está com medo de correr comigo?
Lebre: É claro que não. Não vai haver corrida alguma, mas
eu vou correr apenas para te mostrar quão tolo você é.
Ouriço: Excelente! Você corre naquele sulco; eu vou correr
nesse. Nós vamos ver quem chega até a cerca primeiro. Vamos começar do final
mais distante.
Lebre: Eu vou correr até o riacho e voltar enquanto você ainda
estiver chegando lá. Vá primeiro.
Ouriço: Eu não me demoraria muito se fosse você.
Lebre: Oh, eu estarei de volta antes que você alcance o
final do sulco.
(A Lebre corre para o riacho.)
II
Ouriço: Querida, querida, você ouviu o que eu disse para a Lebre?
Esposa: Se eu ouvi? Eu devo dizer que sim. No que você
estava pensando? Você perdeu o juízo?
Ouriço: Você não deveria falar assim comigo. O que você
sabe sobre os negócios masculinos? Venha aqui e deixe-me dizer uma coisa a
você.
(Ele cochicha e depois anda para o final mais afastado do sulco.
Sua Esposa ri.)
Esposa: Ha, ha! Entendo. Entendo. Nada de errado com sua
cabeça.
“Pernas curtas, grande esperteza,
Pernas longas, não tem cabeça.”
Como minha avó costumava dizer. A Lebre vai descobrir isso
hoje.
(Ela se inclina perto do final do sulco. A Lebre retorna e assume
sua posição para correr.)
Lebre: Está preparado?
Ouriço: É claro que estou, preparado e esperando.
Lebre: Dá-lhe uma pelo dinheiro,
Dá-lhe duas pelo show,
Dá-lhe três para preparar,
E aqui eu me vou!
(A Lebre corre tão rápida quanto o vento. O Ouriço começa junto,
mas pára e se inclina para baixo no sulco. quando a Lebre atinge o outro lado,
a esposa do Ouriço coloca sua cabeça para fora do sulco.)
Esposa: Bem, aqui estou.
Lebre: O que isso significa?
Esposa: Significa o que significa.
Lebre: Vamos tentar novamente. Preparado?
Esposa: Claro que estou.
Lebre: Dá-lhe uma pelo dinheiro,
Dá-lhe duas pelo show,
Dá-lhe três para preparar,
E aqui eu me vou!
(A Lebre corre muito rapidamente de novo. A Esposa começa, mas pára
e se inclina para baixo. A Lebre atinge o outro lado. O Ouriço levanta sua
cabeça.)
Ouriço: Aqui estou.
Lebre: Não consigo entender isso.
Ouriço: É muito claro para mim.
Lebre: Bem, vamos tentar novamente. Está pronto?
Ouriço: Estou sempre pronto.
Lebre: Dá-lhe uma pelo dinheiro,
Dá-lhe duas pelo show,
Dá-lhe três para preparar,
E aqui eu me vou!
(Novamente a Esposa coloca sua cabeça acima do sulco e a Lebre fica
aturdida.)
Esposa: Você vê que estou aqui.
Lebre: Não posso acreditar.
Esposa: Uma coisa perfeitamente simples.
Lebre: Vamos tentar mais uma vez. Você não pode me vencer
de novo.
Esposa: Não se vanglorie. É melhor você economizar fôlego
para a corrida; você vai precisar.
Lebre: Dá-lhe uma pelo dinheiro,
Dá-lhe duas pelo show,
Dá-lhe três para preparar,
E aqui eu me vou!
(Quando a Lebre atinge a outra extremidade da plantação, o Ouriço
levanta sua cabeça.)
Lebre: Isso é muito estranho.
Ouriço: Devemos correr novamente? Você parece um pouco
cansado, mas eu estou perfeitamente descansado.
Lebre (arquejando): Não, não! A corrida é sua.
Ouriço: Você vai caçoar de minha Esposa e de meus filhos
novamente?
Lebre: Não, não! Eu nunca mais vou fazer isso.
Ouriço: Muito bem. E se você desejar correr a qualquer
hora, amigo Lebre, é só me chamar.
Lebre (indo embora balançando a cabeça): É muito estranho. Eu
espero que nenhuma das outras lebres ouça falar dessa corrida.
Esposa (enquanto encontra o Ouriço): Eu pensei que fosse
passar mal de tanto rir. Como minha avó costumava dizer:
“Pernas curtas, grande esperteza,
Pernas longas, não tem cabeça.”
A Lebre e o Ouriço (The Hare and the Hedgehog) - Irmãos Grimm - A Tradução Livre
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